Imagem de Utawarerumono: Mask of Deception
Imagem de Utawarerumono: Mask of Deception

Utawarerumono: Mask of Deception

Nota do Voxel
85

Muita leitura e personagens interessantes em um game tipicamente japonês

Jogar Utawarerumono: Mask of Deception foi um verdadeiro processo de aprendizado. Tive tanto que dedicar tempo a aprender a escrever e falar o nome do game quanto me habituar a todo o universo de jogos, animes e mangás relacionados a ele — que, confesso, me era completamente desconhecido até pouco tempo atrás.

Embora tecnicamente seja a segunda parte de uma história maior, Mask of Deception pode ser considerado um “novo ponto inicial” para a trama. Isso porque não somente ele apresenta a história de um protagonista totalmente inédito, como também abandona as características eróticas de seu antecessor lançado no já distante ano de 2002.

Em Utawarerumono, você assume o papel de Haku, um jovem com amnésia que se vê perdido em um mundo totalmente diferente do seu. Lá, não somente todas as pessoas parecem ter uma força sobre-humana como todos possuem orelhas e rabos de animais — algo que você já pode ter visto em um anime qualquer.

Embora essa premissa soe bastante clichê em um primeiro momento, logo ela se desenrola de formas bastante inesperadas. Muito disso graças a um roteiro (e a um estilo de jogo) que permite um ótimo desenvolvimento de seus personagens e faz com que você realmente se importe com eles ao final de uma jornada que pode levar até 50 horas.

Uma visual novel clássica

Caso você tenha se interessado por Utawarerumono, provavelmente já está familiarizado com o gênero conhecido como “visual novels”. Caso contrário, é fácil explicar: jogos do tipo são quase como aqueles livros no estilo “faça sua própria aventura”, apelando para uma grande quantidade de textos acompanhados por belas ilustrações e trechos nos quais você escolhe qual rumo a história vai seguir.

No caso de Mask of Deception, o game praticamente elimina qualquer alternativa que vai influenciar o desenrolar da trama — no máximo, você vai decidir qual local deve visitar primeiro entre uma lista exibida na tela. Embora essa falta de escolha seja justificada por um roteiro bem “redondinho”, decepciona um pouco a consciência de que você não tem muito controle sobre o que está acontecendo.

Também contribui contra o jogo o fato de que algumas de suas subtramas se desenrolam em um ritmo muito lento. Isso é especialmente evidente na longa introdução, que pode fazer com que jogadores menos pacientes simplesmente desistam antes que alguns dos personagens e situações mais interessantes comecem a aparecer.

 Vale a pena insistir na história, que guarda momentos muito interessantes e genuinamente engraçados 

Felizmente, vale a pena insistir na história, que guarda momentos muito interessantes e genuinamente engraçados — é preciso que um roteiro seja realmente bom para conseguir ser divertido com a mera descrição de acontecimentos. Embora apele para alguns clichês em certos momentos, o game é capaz de conciliar elementos mais previsíveis a cenas realmente tocantes e a situações que fazem você realmente entender as motivações de seus personagens.

Não vou entrar em detalhes da trama — já que isso seria estragar o jogo —, mas digo que saí satisfeito da experiência como um todo, mesmo que um pouco esgotado (acredito que tudo poderia durar um pouco menos). Vale notar que este não é um game recomendado para quem não domina o idioma inglês, já que há uma carga bastante pesada de textos e não tem como entender o que acontece simplesmente “observando figuras”.

Mexendo na formula

A característica que diferencia Utawarerumono de outras visual novels é o fato de o jogo também contar com um sistema de batalhas por turno. Lembrando muito Final Fantasy Tactics — incluindo um sistema de combos no qual botões têm que ser pressionados no momento certo —, os confrontos surgem em pontos-chaves da trama e têm condições específicas de vitória e derrota que variam conforme o contexto.

Bastante divertida, essa mecânica só peca por ser muito subutilizada. É comum que se passem diversas horas de jogo sem qualquer espécie de confronto, o que me faz questionar sua existência.

Em certos momentos, você pode revisitar conflitos anteriores para aumentar o nível de seus personagens, mas isso nunca é realmente necessário. Além de os inimigos não serem particularmente difíceis para quem está habituado ao gênero tático, a possibilidade de retroceder até 50 turnos faz com que você dificilmente tenha que conviver com as consequências de uma decisão que tenha resultados realmente negativos.

Assim, os confrontos táticos parecem mais uma adição descartável do que um elemento realmente importante de Utawarerumono. Isso é realmente uma pena, especialmente quando levamos em consideração que questões de posicionamento, fraquezas e resistências elementares estão presentes aqui e poderiam ser usadas de forma muito mais interessante.

Jogue o game, veja o anime

Caso você esteja interessado em Mask of Decepcion, também é uma boa ideia acompanhar a animação baseada no jogo lançada em 2015. Já disponível com legendas em português, a adaptação está disponível para todos que desejarem assisti-la através do Crunchyroll — meio perfeitamente legal e que sequer exige pagamentos para ser acessado.

Com o subtítulo “Rostos Falsos”, o anime segue a mesma história do jogo, suprimindo alguns trechos e ajustando outros. O mais interessante é o fato de que ela dá uma nova perspectiva sobre certos pontos-chave da trama, preenchendo lacunas deixadas pelo game. Em resumo, vale a pena conferir os dois meios para conseguir aproveitar ao máximo tudo o que essa história tem a oferecer.

Um bom jogo para um nicho bastante específico

Vamos ser sinceros: visual novels podem ser bastante famosas no Japão, mas atingem somente uma parcela ínfima do público ocidental. E, justamente por isso, é bom ver a chegada de títulos como Utawarerumono por aqui — mesmo tendo problemas de ritmo, o game oferece uma história forte o suficiente para fazer você progredir até o final.

Gostaria que a história fosse um pouco mais curta, mas diria que a experiência em geral foi bastante satisfatória — embora eu tenha que descansar um pouco antes de encarar a sequência programada para o final deste ano. O único ponto que realmente me decepcionou foi a quantidade muito limitada de batalhas, o que faz com que o sistema de combate pareça ter sido desperdiçado.

Caso você goste de histórias cheias de elementos tipicamente japoneses e valorize o desenvolvimento de personagens mais do que uma trama explosiva, vale a pena dar uma chance para Mask of Deception. No entanto, é bom estar com o inglês em dia, já que não há qualquer previsão de que o game vá ganhar uma adaptação oficial para o português.

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.
Pontos Positivos
  • Personagens carismáticos
  • Sistema de batalha divertido
  • Estilo artístico bem trabalhado
  • Uma história que vale a pena acompanhar
Pontos Negativos
  • O ritmo do roteiro se arrasta em alguns pontos
  • A história poderia se beneficiar de algumas edições
  • Os momentos de combate são muito pontuais