Imagem de Tell me Why: Capítulo 1
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Tell me Why: Capítulo 1

Nota do Voxel
88

Tell Me Why: uma narrativa familiar emocional em uma gameplay simples

 A Dontnod Entertainment ficou conhecida por criar histórias envolventes e imersivas sobre problemas modernos, misturando poderes sobrenaturais e escolhas morais para captar os jogadores. O sucesso de Life is Strange é inegável e fez com que a Xbox Game Studios se unisse à desenvolvedora para criar uma história completamente nova neste mesmo estilo. Então, surgiu Tell Me Why.

No jogo, acompanhamos Tyler e Alyson Ronan, dois irmãos de Delos Crossing, no Alasca, que acabaram separados por causa de um evento traumático durante a infância. Dez anos depois, eles se reencontram e voltam para sua casa antiga, revivendo memórias e descobrindo segredos sobre o passado.

O título é episódico, assim como as outras obras da Dontnod, e fizemos uma análise do primeiro capítulo, chamado de “De Volta ao Lar”. Confira com a gente a análise completa!

Uma investigação revelada por meio das memórias

O jogo começa com uma revelação chocante de Tyler depois que a mãe dos irmãos morreu. Isso fez com que os dois ficassem separados durante 10 anos, já que Tyler foi para um centro de reabilitação de menores, enquanto Alyson acabou sendo adotada pelo delegado do caso.

Você começa a controlar os gêmeos enquanto se preparam para um reencontro e seus quartos funcionam como uma espécie de tutorial, que te ensina a explorar os elementos à sua volta. Alyson e Tyler precisam ir até sua antiga casa, onde o evento traumático aconteceu, para realizar pequenos reparos e colocar o imóvel à venda. Porém, o lugar esconde diversas lembranças e segredos dos dois.

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Isso fica claro a cada momento em que eles relutam ao passar por alguns locais ou interagir com objetos, além de demonstrarem muita negação com o dia em que os dois acabaram se separando.

Ao seguirmos a história, percebemos que não só o evento que os separou tem influência em Tell Me Why, mas outros elementos tornam a trama ainda mais interessante. Isso porque Tyler é um homem trans e passou toda a sua infância como irmã gêmea de Alyson.

Essa representatividade trazida pelo game recebeu a colaboração de uma ONG especializada e é um assunto abordado em vários momentos do game. A construção de Tyler torna a história ainda mais complexa, onde ele precisa entender até que ponto suas necessidades afetaram seus relacionamentos na infância.

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As memórias do passado dos dois vão retornando à medida que você avança no jogo, fazendo você entender cada vez mais o que aconteceu naquela data que os dois tentam esquecer.

Cada pequena coisa pode nos contar um pouco mais sobre os Ronan

A área de exploração, apesar de ser limitada funciona mais como uma base para desbloquear alguns diálogos e novos pedaços da história. Na maioria das vezes, há apenas uma pequena ação do personagem que permite avançar na trama. Também é possível dar foco para um espaço, como uma mesa com documentos ou uma caixa de brinquedos para acessar cada um dos objetos, que também criam novas perspectivas.

A leitura é um aspecto primordial para quem quer saber de todos os detalhes. Cartas e pequenos lembretes dão pistas de acontecimentos do passado para que o jogador que acompanha a jornada de Tell Me Why consiga resgatar memórias dos personagens.

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Nesse quesito, o enredo é enriquecido pelo Livro dos Goblins, que contém vários contos infantis, que são uma ótima ajuda para os irmãos durante os puzzles. Além disso, ele facilita o reconhecimento de desenhos e brincadeiras enquanto você percorre alguns locais. O livro é chamado assim porque Tyler e Alyson são conhecidos como “Os Goblins Travessos”, retirados diretamente das suas histórias.

A riqueza de detalhes narrativos do game não para por aí e nos presenteia com colecionáveis, que são personagens dos mesmos contos da infância das crianças e podem ser encontrados em locais escondidos durante a exploração. Esses mesmos brinquedos de madeira também funcionam como uma forma de narrativa mais metafórica.

A conexão dos dois irmãos é o verdadeiro poder

Quando você passa por um local importante, sinais luminosos similares a grãos de areia aparecem na tela, avisando que você pode encontrar uma memória valiosa ali. Então, é preciso segui-lo para encontrar o local exato do acontecimento do passado.

O poder da lembrança desbloqueia diálogos e ações dos personagens e podem ser “assistidos” pelos gêmeos. Essa habilidade é compartilhada entre os dois e não tem o papel apenas de contar o enredo, mas ajudar nos puzzles, como mostrar onde a chave de uma porta fechada está escondida, por exemplo.

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Além disso, é interessante como a memória tridimensional pode ser acompanhada como se estivesse acontecendo naquele momento, no mesmo local. Tyler e Alyson têm perspectivas diferentes sobre o que aconteceu e cabe a você decidir qual delas faz mais sentido, mudando a trajetória da narrativa.

Outro poder compartilhado pelos dois irmãos é o de se comunicarem por vozes em suas cabeças mesmo quando não estão juntos — algo que ajuda a avançar em um local ou dar outras informações importantes.

O segundo poder é menos explorado para o avanço da gameplay, mas também está lá, enriquecendo a história e a conexão que Tyler e Alyson compartilham desde crianças, antes mesmo de se separarem.

Outros elementos de Tell Me Why não ficam para trás

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Em games narrativos, as expressões faciais dos personagens nunca foram o foco — as ações, diálogos e objetos sempre nos contaram muito mais. E em Tell Me Why isso pode ser percebido amplamente, em cada pequena coisa.

A ideia do jogo não é ser realista. Mesmo assim, os gráficos evoluíram — e muito — desde o primeiro Life is Strange, com texturas bastante ricas e cenários esplendorosos, que nos dão a sensação gelada do Alaska, com montanhas rochosas, árvores e neve extremamente convincentes.

Há pouca diferença entre as cutscenes e a gameplay e, em alguns momentos mais “contemplativos”, você pode achar que está olhando para uma pintura, graças ao visual único que deu sucesso à outra saga da Dontnod.

Na câmera, às vezes você atuará como um espectador — mudando a direção à sua maneira — e outras agirá como o personagem. Essa troca entre as duas perspectivas é bem fluida. Porém, em alguns momentos, interagir com objetos muito próximos pode exigir que a movimentação do personagem seja bastante precisa para funcionar.

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A exploração parece continuar com o mesmo formato, com pequenos fatos e histórias mencionados pelos personagens para dar um complemento ao enredo. As escolhas permanecem alternando entre cruciais e menos importantes, com diferentes opções de diálogo. Entretanto, as lembranças parecem ser realmente o foco em que você escolherá qual delas faz mais sentido, podendo alterar completamente o futuro dos gêmeos.

Já a trilha sonora, continua como sempre espetacular, contando a jornada da sua maneira e deixando o título ainda mais prazeroso, mesmo nos momentos mais triviais.

Vale a pena?

Os gráficos mais polidos, a história trágica e sobrenatural, com uma narrativa cheia de detalhes pode dar vida nova para os jogadores que gostaram dos games da franquia Life is Strange. Entretanto, o jogo acerta ao chamar a atenção de um público novo com assuntos bastante atuais. Alguns jogadores podem torcer o nariz para os outros games, mas podem ver em Tell Me Why uma oportunidade de se aventurarem no gênero.

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Outro ponto é que, mesmo um jogador que esteja acostumado com jogos de ação, mais movimentos e acrobacias, talvez possa curtir a jornada de Alyson e Tyler. O foco sempre vai estar no enredo e isso pode ajudar o universo dos videogames a ser ainda mais reconhecido como um poderoso meio narrativo, assim como o cinema.

Se o jogo pode ser melhor que a história de Max e Chloe, é difícil dizer. Além de não conhecermos a história por completo, os dois jogos tem foco no enredo e, na maioria das vezes, o vencedor é muito particular, pesando para o que mexe mais com você. Porém, é certo dizer que os outros detalhes de sucesso se mantiveram ou até melhoraram.

Apesar de ser um game linear e limitado, que compete hoje em dia com jogos gigantes de mundo aberto, é possível se apegar aos personagens e se emocionar com a história, que ainda tem muitos mistérios e reviravoltas para revelar nos próximos capítulos. Dê uma chance para Tell Me Why com De Volta ao Lar, capítulo que está disponível no Game Pass.

Tell Me Why foi gentilmente cedido pela equipe da Microsoft para nossa análise. Obrigado, pessoal!

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Pontos Positivos
  • Narrativa interessante, rica em detalhes e com reviravoltas
  • Gráficos polidos, texturas otimizadas e paisagens muito bonitas
  • Personagens cativantes e interessantes
Pontos Negativos
  • A história pode ser maçante para quem não está tão acostumado
  • Por enquanto, a sequência é linear, apesar das escolhas que você faz
  • O ambiente é limitado, ao contrário outros jogos da desenvolvedora