Desempenho de bolso: afinal, é necessário um chip octa-core no celular?

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Imagem: Divulgação/Samsung

Com a constante demanda por poder para gerenciar mais apps simultaneamente, processar tarefas em frações de segundo e dar suporte para jogos com visuais incríveis, as fabricantes encontraram no incremento do hardware uma solução bastante cômoda e rápida para levar mais performance ao consumidor.

Os celulares estão cada vez mais poderosos, com hardwares que beiram o exagero. Na lista de especificações, temos peças como processadores de dez núcleos, incríveis 8 GB de memória RAM, chips gráficos com alto poder de processamento e compatibilidade com as tecnologias mais avançadas.

A cada ano, as fabricantes apostam em melhorias nos chipsets para smartphones e alardeiam em suas apresentações os benefícios fantásticos desses novos dispositivos. Todavia, é natural que o consumidor tenha dúvidas pertinentes sobre as reais vantagens e até necessidades nos incrementos realizados nesses componentes.

Considerando o histórico de algumas marcas e até mesmo dispositivos atuais, é perceptível que nem sempre melhores recursos significam melhores experiências. Assim, uma análise quanto aos ganhos de performance oferecidos pelos processadores é bastante pertinente. Afinal, é preciso tamanho exagero nos chips? Há ganhos que vão além dos benchmarks?

Processadores para todos os gostos

A primeira consideração quanto ao hardware que devemos fazer diz respeito às inúmeras opções disponíveis para o consumidor. A existência de modelos com oito ou dez núcleos segue a mesma lógica de componentes para computadores ou mesmo de motores para carros.

A evolução dos dispositivos ocorre em qualquer segmento e há produtos para todos os gostos, necessidades e bolsos. No caso dos PCs, temos processadores Intel e AMD para quem vai só navegar, outros focados em edição de imagem e alguns voltados para quem vai jogar.

Pensando nos carros, a analogia pode ser bastante similar. As montadoras planejam veículos para os mais diferentes propósitos, sendo que há quem precise — e vai optar — por um carro básico ou um intermediário, mas há também quem só se contente com uma Ferrari.

Então, na questão dos processadores para celulares, a lógica pode ser levada da mesma forma. Às vezes, você pode não precisar de um chip tão avançado no seu celular, pois você só costuma usar o WhatsApp. Todavia, uma grande parcela dos consumidores quer aproveitar games e muitos apps simultaneamente.

Não há como evitar esse avanço no propósito dos chips para celulares, já que são ações necessárias para impulsionar todo o segmento. Não fosse o surgimento de peças mais robustas, talvez ainda estivéssemos presos nos sistemas mais básicos, uma vez que sem o hardware apropriado, as desenvolvedoras não poderiam planejar novos aplicativos.

Exagero coerente com o avanço do software

Importante perceber que, da mesma forma como essa lógica de evolução faz sentido por parte das desenvolvedoras de programas em relação aos chips, ela também é bastante coerente quando analisada pela perspectiva das fabricantes de processadores em relação às necessidades para atender à demanda dos softwares.

Basicamente, ao perceber os movimentos do mercado como um todo — tanto as tendências impostas pelas desenvolvedoras quanto os costumes dos usuários —, empresas como Qualcomm e MediaTek podem se antecipar e entregar soluções antes do tempo. Não é por acaso que os processadores e chips gráficos apresentam tecnologias que ainda são pouco utilizadas ou que sequer foram introduzidas para o consumidor.

Assim, se há um avanço claro para o lado da realidade virtual, essas companhias já pensam dois passos à frente para entregar peças capazes de dar o suporte apropriado para uma tecnologia que sobreviva por um bom tempo. Em geral, o desenvolvimento de um chip para celular é feito com base nos últimos protocolos, padrões e tecnologias de mercado, muitos que até nem foram aplicados nos sistemas.

Na prática, isso significa que, em vários casos, um chipset atual pode não ter toda sua capacidade utilizada nas tarefas realizadas pelos programas recentes. Contudo, sua capacidade é “à prova de futuro”, ou seja, ele terá muito combustível para queimar quando inovações mais exigentes cheguem até o consumidor.

Essa afirmação é bastante verdadeira quando percebemos que celulares de um ou dois anos atrás entregam uma experiência magnífica nos dias atuais — recebendo as mais recentes atualizações e rodando quaisquer apps com excelente desempenho. Caso os dispositivos fossem projetados para entregar apenas o mínimo necessário, eles estariam fadados ao fracasso em um curto espaço de tempo.

De qual octa-core estamos falando?

Vale pensar que nós não comentamos sobre nenhum modelo específico de processador nesta matéria, mas a verdade é que os chips de oito núcleos já existem desde 2013. Então, estamos tratando aqui de uma tecnologia de quase quatro anos, que até agora vem recebendo incrementos anuais, tanto na parte da litografia quanto das especificações.

Indagar o propósito de um chipset de oito núcleos em 2017 pode parecer bobagem, já que os atuais utilizam inúmeros sensores e desempenham uma infinidade de tarefas, então parece um tanto óbvio que um modelo desses é o mínimo necessário para um bom desempenho em um aparelho top de linha.

Todavia, há quatro anos, a inclusão de um processador de oito núcleos em um celular parecia muito menos necessária, já que as tecnologias eram um tanto mais simples. Todavia,  é preciso pensar tanto na questão da  projeção para o futuro, já comentada acima, quanto na forma como esses componentes funcionam e foram concebidos em um primeiro momento.

Antigamente, os chips do tipo octa-core trabalhavam com configurações big.LITTLE. Essa arquitetura envolve basicamente dois tipos de componentes: núcleos de alto desempenho (como os componentes do tipo ARM A57) e núcleos de baixo consumo (temos como exemplo aqui os ARM A53).

Isso significa que, em um primeiro momento, a tática de adotar CPUs com oito núcleos era muito mais com o intuito de entregar uma boa relação entre consumo e performance, do que somente acelerar o processamento.

Ainda que, em algumas situações, o processador pudesse ativar os oito núcleos, tais elementos raramente eram usados em conjunto, já que os apps que demandavam performance requisitam apenas os núcleos ARM 57, enquanto nas atividades básicas, esses itens eram desativados e davam vez para o funcionamento dos núcleos ARM 53. Era como se a CPU tivesse dois módulos de quatro núcleos e trabalhasse com eles em ocasiões separadas.

Modelos mais recentes já trazem oito núcleos de mesma arquitetura (como a ARM A73), porém ainda existe uma distinção no uso dos componentes. Agora, há componentes que têm seus clocks limitados para poupar energia, sendo usados somente para atividades mais básicas. Na prática, tudo permanece ainda muito similar na forma de funcionamento.

Se percebermos as características adaptáveis dos núcleos e que quase todas as tarefas rodam perfeitamente em quatro núcleos, é bastante compreensível porque muitos aparelhos modernos (inclusive os top de linha) ainda usam processadores do tipo quad-core. Pode ser que os resultados sejam mais fracos em benchmarks, mas a percepção do usuário quase não será impactada por essa limitação no chipset.

Otimização, para que te quero?

Citando nomes, temos grandes exemplos de produtos como o Apple iPhone 7 ou o LG G6, que contam com processadores quad-core e tem desempenho exemplar em qualquer atividade. Ambos são aparelhos de última geração e entregam performance satisfatória para o consumidor em quaisquer tarefas.

E como essas fabricantes conseguem tamanha proeza, sendo que outras precisam utilizar peças com o dobro de núcleos? Bom, em partes, toda essa história está na percepção do usuário e no exagero habitual já comentados, porém existe outro fator em jogo: otimização de recursos nos softwares.

Não é preciso ser um gênio da computação ou da engenharia para entender que mais nem sempre é mais. Se pensarmos em automóveis, existem inúmeros modelos premium com motores 2.0, porém quase todos desempenham de forma diferente. Alguns serão mais econômicos, outros serão mais fortes na arrancada, outros serão focados na velocidade máxima e alguns só querem entregar conforto e silêncio aos passageiros.

Os celulares funcionam de forma bastante parecida. Algumas marcas focam em números e especificações, algo que é muito levado em conta pelos consumidores, mas existem empresas que trabalham arduamente para extrair toda a capacidade do hardware através dos softwares. Essa é uma máxima principalmente no caso da Apple, que geralmente faz igual com menos.

Basicamente, quando o software consegue usar o hardware com o mínimo de desperdícios (o que implica em um trabalho árduo para melhorar o funcionamento do sistema e dos apps), os resultados são visíveis na prática, principalmente quando o consumidor percebe que um chip quad-core apresenta uma experiência tão boa quanto à de um octa-core.

Essa otimização também foi perceptível lá no passado, quando a Motorola lançou o Moto X com um chip dual-core em uma época em que todos apostavam em quatro núcleos. O produto em questão desempenhava incrivelmente bem e ainda apresentava novidades de utilização que convenceram o consumidor de que o hardware era mais do que capaz de entregar boa navegação e excelente experiência para a proposta do produto.

Então, no fim das contas, um processador octa-core é “mais ou menos” necessário em um smartphone. Existem aparelhos que podem sim aproveitar esse poder extra, mas nem todo celular requisita um exagero em recursos de hardware. Assim, na hora de escolher um produto, é importante pesquisar e consultar reviews para entender se essa performance extra faz alguma diferença na prática.

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