A história da Nokia, a empresa que mudou o mundo dos celulares

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Você provavelmente conhece — e adora — a Nokia por causa dos celulares indestrutíveis com o "jogo da cobrinha" ou por ser a marca por trás de quase toda a família Windows Phone. Mas a empresa finlandesa tem uma histórica bem mais rica e antiga do que muita gente imagina.

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A marca começou praticamente sem relação com o que a consagrou, teve o auge no início da era dos celulares, fez parte de planos da Microsoft que não deram tão certo assim e agora aposta em um retorno triunfal mais voltado para as raízes. No meio de tudo isso, quase foi à falência em mais de um momento, mas conseguiu superar as adversidades e sobreviver.

É uma história cheia de sucessos, quedas, reviravoltas e curiosidades que todo fã de tecnologia precisa conhecer.

Uma fábrica de... Papel?

Você está acostumado a ouvir falar da Nokia como uma empresa de eletrônicos, mas ela começou desenvolvendo uma atividade completamente diferente. A história da Nokia começou oficialmente em 1865 — sim, "mil e oitocentos"! —, quando o engenheiro Fredrik Idestam resolveu iniciar uma fábrica de papel no sudoeste da Finlândia. A companhia era responsável por procedimentos como transformar lascas de madeira em tábuas e, posteriormente, em folhas.

Um tempo depois, Idestam decidiu inaugurar uma segunda unidade no mesmo país, perto do rio Nokianvirta e da cidade de Nokia. A região serviu de inspiração para batizar a companhia, que não parou de crescer. O engenheiro logo se juntou ao colega empresário Leo Mechelin para transformar o pequeno empreendimento em uma grande companhia da área, inclusive recebendo a participação de acionistas.

Com a aposentadoria de Idestam, em 1896, Mechelin colocou em prática ideias que o fundador não aprovava. A Nokia começou aos poucos a adentrar no mercado de fornecimento de energia elétrica e pegar gosto pelo mercado. Porém, uma reviravolta quase enterrou esse sonho: a companhia ficou próxima da falência por conta da Primeira Guerra Mundial. A salvação veio por meio uma aquisição da fábrica de produtos de borracha Finnish Rubber Works, que utilizava os serviços de geradores da Nokia.

Ildestan e Mechelin, respectivamente: os primeiros "pais" da Nokia

Em 1922, a Finnish Rubber Works comprou outra empresa local, a Finnish Cable Works. Essa era uma fabricante especializada em cabos e produtos eletrônicos que seria a grande base dos futuros empreendimentos da Nokia. Foi neste momento que entrou em cena o terceiro grande homem por trás dos primórdios da marca: Eduard Polón. Ele foi o fundador da Finnish Rubber Works e assumiu como “gestor” conjunto dela, da Cable Works e das fábricas originais. A Nokia só virou uma gigante mesmo em 1967, com a fusão dessas três áreas.

Essa tal tecnologia pode dar certo

Curioso para saber como a Nokia chegou nos celulares? Já estamos chegando lá, mas o primeiro dispositivo eletrônico lançado pela Nokia ainda não foi de telefonia. Em 1962, ela passou a fabricar um analisador de pulso para ser usado em usinas nucleares. Depois, vieram capacitores, uma central telefônica e equipamentos militares de comunicação e transmissão — veja alguns desses produtos jurássicos na galeria abaixo.

Foi só na segunda metade da década de 1990 que a Nokia deixou a Finlândia e a Europa para ganhar o mundo com um aparelho cheio de potencial. Mas nem por isso o setor é menos importante: a área de produção de itens não exatamente destinados ao consumidor e a preocupação também com soluções de infraestrutura permanecem na Nokia até hoje.

A era de ouro dos celulares

Em 1984, a Nokia comprou uma fabricante finlandesa chamada Salora Oy e transformou a parceria na "Nokia-Mobira Oy". E foi sob essa marca que nasceram alguns dos pioneiros em telefones que podiam ser transportados por aí, como o Mobira Talkman, o Mobira Cityman 900 e o Mobira Senator — este último um telefone para ser usado dentro de carros, tornando-se um símbolo de status entre executivos ricaços e empresários. O líder soviético Mikhail Gorbachev aumentou ainda mais a popularidade do Cityman quando foi fotografado utilizando um desses modelos.

O Mobira Cityman que ficou famoso por causa de Mikhail Gorbachev

Vendo o potencial do eletrônico, a Nokia continuou ligada à produção não só de hardware, mas também das tecnologias de transmissão. Ela foi uma das marcas mais atuantes no desenvolvimento da Global System for Mobile Communications (GSM) desde a segunda geração, inclusive sendo a responsável pela primeira chamada comercial nesse formato.

Ela foi uma das marcas mais atuantes no desenvolvimento da Global System for Mobile Communications (GSM) desde a segunda geração

O primeiro celular GSM da empresa (e o primeiro produzido comercialmente em massa da categoria) foi o Nokia 1001, que já adotava o famoso formato "tijolão". Esse foi o início do lançamento das famílias de celulares da fabricante, que utilizou inicialmente o formato numérico nas linhas de 2000 a 9000, passando ainda pelas letras “C”, “E”, “N” e “X”.

Guardados na memória

Conheça ou relembre alguns dos aparelhos lançados pela Nokia a partir da década de 1990 e antes da aquisição da Microsoft, quando a finlandesa se tornou líder do mercado e permaneceu no topo do pódio por mais de uma década.

Nokia 8110 (1996), o celular de “Matrix”

Nokia 9000 Communicator (1996), o “tudo em um”

Nokia 6110 (1998), o primeiro com “Snake”

Nokia 3310 (2000), o indestrutível

Nokia 6650 (2002), o primeiro com 3G

Nokia N-Gage (2002), o portátil que não deu certo

Nokia 1100 (2003), o “barateza” mais vendido do mundo

Nokia N90 (2005), o com a câmera lateral

Symbian: ascensão e queda

E não foi só na fabricação de celulares que a empresa se destacou nesse período. Em 1998, a Nokia lançou o sistema operacional Symbian para assistentes pessoais — aquelas agendas eletrônicas que eram moda na época. Logo, ele passou também a integrar os celulares e a ser licenciado para rodar em modelos de outras marcas.

Durante vários anos, antes que Android e iOS dominassem o mercado, o Symbian reinou solitário em aparelhos de Samsung, Sony Ericsson, Motorola e da própria Nokia. A interface de usuário com maior facilidade de navegação e vários recursos gráficos (hoje bem ultrapassados, mas superavançados e dinâmicos na época) era o principal atrativo do sistema. Porém, uma série de bugs, falhas de segurança e alta fragmentação do mercado por conta das várias versões diferentes existentes levaram a Nokia a perder espaço e a cessar atualizações de software no serviço em 2014.

A era Microsoft

No começo de 2001, a Nokia já mostrava sinais de que talvez não conseguiria acompanhar as mudanças do mercado que ela mesma ajudou a construir. A crise envolveu um recall de baterias que causou um enorme prejuízo na moral e nas finanças da marca (em 2007), a popularização do Android (a partir de 2008) e a demissão de 1,7 mil funcionários (só em 2009) que representavam a companhia ao redor do mundo.

A companhia era 'um homem parado em cima de uma plataforma em chamas'

Para apagar o incêndio, quem assumiu como CEO foi Stephen Elop — o primeiro estrangeiro a ocupar o cargo. Antes um executivo da Microsoft, ele ficou famoso por conta de um discurso apocalíptico em que citou que a companhia era “um homem parado em cima de uma plataforma em chamas”.

Em setembro de 2013, quando parecia que a empresa estava novamente destinada a sumir, outro capítulo na história maluca da Nokia começava a ser escrito. Para ingressar com força no mercado de smartphones e tentar bater de frente contra Android e iOS, a gigante Microsoft comprou toda a divisão mobile da parceira finlandesa pelo equivalente a R$ 17 bilhões.

Steve Ballmer (na época ainda CEO da Microsoft) e Stephen Elop comemoram a parceria

A companhia iniciada por Bill Gates passou a ser dona de aparelhos, serviços e patentes mobile da companhia. Foi uma bomba, é verdade, mas muita gente já esperava a negociação — afinal, a linha Lumia de modelos com Windows Phone já existia sob um acordo de licenciamento firmado dois anos antes. O que mudou é que a Nokia agora foi "absorvida", passando a operar como uma marca dentro de outra: as linhas "X", "Asha" e "Lumia", assim como a divisão de feature phones, passava a ser toda da Microsoft. Até o CEO da Nokia na época, Stephen Elop, assumiu um cargo administrativo na Microsoft.

O “casamento” durou 18 meses, várias linhas de celulares e alguns tablets. O Brasil foi um dos maiores públicos consumidores da marca, muito possivelmente ainda pegando carona na fama da Nokia nos anos anteriores — o país foi o segundo maior mercado consumidor de Windows Phone em todo o mundo em 2015, e o iOS ainda estava atrás dele em meados de 2016.

Os modelos Lumia 925, 920, 820, 720, 620 e 520

Mas o fim da parceria parecia inevitável: a relação estava desgastada por baixo desempenho no mercado, o nome da finlandesa começou a ser removido dos aparelhos para deixar somente “Lumia”, e a própria Microsoft abandonou a produção de novos modelos Windows Phone (agora Windows 10 Mobile).

E o que aconteceu com a Nokia “original”?

O que sobrou da empresa após a aquisição da Microsoft ficou impedida de comercializar dispositivos móveis sob o nome Nokia por dois anos, mas manteve alguns negócios. A empresa de redes e infraestrutura Nokia Networks continuou a operar e a fazer grandes parcerias, enquanto a Nokia Technologies nunca parou de desenvolver produtos.

A câmera OZO

A câmera OZO (para Realidade Virtual) e o tablet com Android Nokia N1 são só algumas das criações. Ela também manteve a patente do “toque de celular da Nokia”, que você muito provavelmente já ouviu por aí em algum lugar e que está presente no novo 3310. Anotou tudo? Esses elementos serão muito importantes no capítulo a seguir.

O retorno triunfal

Em 18 de maio de 2016, a Microsoft vendeu a divisão de feature phones da Nokia para a HIF Mobile Ltd, uma subsidiária da fabricante taiwanesa Foxconn, pelo equivalente a R$ 1 bilhão. Até aí, nenhuma grande expectativa estava formada, certo?

Só que uma das parceiras da HIF na aquisição é a também desconhecida HMD Global, uma empresa finlandesa formada por ex-funcionários da equipe de pesquisa e desenvolvimento da Nokia Technologies.

E eles agora são também os novos donos da licença para lançar aparelhos sob a marca “Nokia”, com uma cadeia de produção gigantesca à disposição. Em outras palavras, a boa e velha Nokia voltou para casa.

A boa e velha Nokia voltou para casa

Os primeiros frutos da parceria entre Foxconn e HMD já começaram. O primeiro passo é o lançamento de uma nova linha de smartphones, agora com Android. O aparelho de estreia, o Nokia 6, foi um sucesso de vendas na China e deve repetir os números ao redor do mundo. Junto com ele, chegaram o Nokia 3 e o Nokia 5, apresentados durante a MWC 2017.

A feira, que contou com cobertura completa do TecMundo, também serviu de espaço para o aguardado retorno do Nokia 3310, um feature phone que deve balançar o coração de novos e velhos fãs da marca. Ao que tudo indica, ela está mesmo pronta — e os próximos capítulos têm tudo para terminar em um final feliz.

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