O WhatsApp Pay é uma ameaça para o PIX do Banco Central?

6 min de leitura
Imagem de: O WhatsApp Pay é uma ameaça para o PIX do Banco Central?
Imagem: Financial Times

O WhatsApp lançou ontem (15) um novo recurso no Brasil que permite transferir dinheiro entre pessoas e pequenos negócios que utilizam o mensageiro. A novidade vinha sendo testada na Índia desde 2018, mas nunca chegou a ser lançada oficialmente por lá devido a entraves regulatórios. Com isso, o maior mensageiro do mundo resolveu se voltar para o Brasil, que possui sistema financeiro muito mais simples e também concentra uma grande quantidade de seus usuários ativos diariamente. 

São 120 milhões de pessoas usando o WhatsApp continuamente no Brasil, isso fez com que o Banco Central começasse a monitorar de perto o desenvolvimento do WhatsApp Pay. O BC inclusive já se pronunciou publicamente sobre o assunto.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

O BC considera prematura qualquer iniciativa que possa gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos

“O BC está acompanhando a iniciativa do WhatsApp e avalia que há grande potencial para sua integração ao PIX. Entretanto, o BC considera prematura qualquer iniciativa que possa gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos”, escreveu a instituição em comunicado ao Convergência Digital.

Com tudo isso "na mesa", especialmente com essa possibilidade de fragmentação de um mercado de pagamentos que só agora está dando seus passos iniciais em uma espécie de unificação, será que o WhatsApp Pay será uma ameaça ao PIX?

Se você ainda não conhece o novo sistema de pagamentos universal do Banco Central, trata-se de uma plataforma que permitirá a interoperabilidade entre bancos e instituições de pagamento em tempo real, 24 horas por dia, 7 dias por semana. Você pode conferir um artigo completo que publicamos acerca do PIX.

Qual é a posição do próprio WhatsApp?

O TecMundo entrou em contato com o WhatsApp para descobrir o que o mensageiro acha do PIX que deve chegar ao consumidor brasileiro em novembro deste ano.

O lançamento de um sistema de pagamentos com 120 milhões de usuários em potencial poucos meses antes da inauguração da solução do BC naturalmente pode ser encarado como uma ameaça, mas o mensageiro não parece estar interessado em fragmentar o mercado de pagamentos nacional, como teme o BC.

Estamos avaliando essa importante tecnologia com nossos parceiros e compartilharemos mais informações em breve”, disse o mensageiro em contato com o TecMundo.

Estamos avaliando essa importante tecnologia com nossos parceiros e compartilharemos mais informações em breve

O posicionamento do WhatsApp acerca do PIX pode ser um tanto misterioso, mas o fato de o app dizer que terá novidades para compartilhar em breve sugere que já existe uma preocupação em, pelo menos, se integrar à plataforma nacional.

Não sabemos, contudo, em que termos, mas podemos imaginar que o WhatsApp faria parte do PIX de forma indireta, trabalhando em parceria com alguma empresa que seja um participante direto do novo sistema, por exemplo um banco ou uma empresa como a Cielo, que já está processando os pagamentos do WhatsApp Pay no Brasil.

Essa parceria com a Cielo sugere que o WhatsApp está buscando tecnologia nacional para se integrar ao sistema financeiro do Brasil em vez de trazer algo novo de fora.

As taxas do WhatsApp

O TecMundo também conversou com o WhatsApp acerca da taxa de 3,99% de cada pagamento recebido por uma empresa no mensageiro. A transferência de fundos entre usuários será gratuita, mas quem quiser atender clientes na plataforma terá que pagar por isso.

Inicialmente, a taxa parece alta, considerando que o mercado de maquininhas de cartão oferece valores consideravelmente menores para pequenas empresas e em modalidades específicas. 

O WhatsApp, por sua vez, afirma que seu preço é referente não apenas ao custo das transações, mas também ao serviço que oferece às empresas e aos comerciantes que a usam para fazer negócios.

“Estamos começando com uma taxa competitiva menor do que alguns concorrentes. As processadoras de pagamentos já cobram pelo uso de cartões de crédito para cobrir taxas de processamento, proteção de estorno, pré-financiamento para pagamento em 2 dias úteis e suporte ao comerciante. Essa cobrança já inclui tudo isso. Ser capaz de mostrar quais produtos ou serviços uma empresa oferece em seu catálogo e depois fechar uma venda diretamente no WhatsApp será incrivelmente útil para as empresas. Isso economizará tempo e ajudará a aumentar as vendas. A taxa de 3,99% foi definida em conjunto com a Cielo, considerando a taxa de processamento em uma máquina convencional de pagamentos. O recurso de pagamentos no WhatsApp ajuda você a ter uma presença profissional no app, aumentar as vendas e economizar tempo ao receber dinheiro e confirmar a transação diretamente nas conversas com seus clientes. Ainda, é possível oferecer uma excelente experiência ao cliente, interagindo com seus clientes no aplicativo que eles amam e usam”, disse o mensageiro por meio de uma porta-voz ao TecMundo.

O que o mercado acha

Inicialmente, o acesso a 120 milhões consumidores em potencial parece estar deixando o mercado mais animado do que preocupado com a taxa de quase 4% por transação.

Para Rodrico Ricco, CEO e fundador da Octadesk — uma startup que auxilia outras empresas a vender mais via canais digitais —, o timing é perfeito para a função começar a rodar no país. Segundo levantamento interno da própria Octadesk, a interação entre clientes e empresas no WhatsApp teve um aumento de 500% no período de isolamento em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

Ricco ainda considera que a taxa não é tão alta e traz vantagens que as bandeiras de cartão tradicionais não oferecem.

O empreendedor terá o dinheiro na conta em até 2 dias úteis, e não em 30 ou 40 dias como é no processo tradicional

“A taxa é bem similar à do cartão de crédito, com a diferença que o empreendedor terá o dinheiro na conta em até 2 dias úteis, e não em 30 ou 40 dias como é no processo tradicional. Isso é muito bom, pois ajuda no fluxo de caixa, principalmente de pequenos negócios. Muitas vezes, o pequeno empreendedor precisa se endividar para fazer a cobertura de caixa para 30 ou 40 dias. Mesmo que a taxa seja similar, ou até um pouco maior, compensa, pois evita outro encargo financeiro”, analisou Ricco.

Além beneficiar o fluxo de caixa, a possibilidade de iniciar e fechar o ciclo de venda no mesmo ambiente é encarada como um avanço para pequenos comerciantes que ainda estão se digitalizando.

“A nova função de pagamentos só ajudará os comerciantes a se adaptarem à economia digital, ao ‘novo normal’. Mais uma vez, vemos na tecnologia uma saída para o crescimento e a recuperação financeira”, analisa Ricardo Zanlorenzi, o CEO da Nexcore — empresa curitibana que oferece um software omnichannel para integrar atendimentos de pequenas e grandes empresas à API Oficial do WhatsApp.

Vai dar certo no Brasil?

Em um primeiro momento, parece que o WhatsApp Pay realmente tem potencial para dar certo e não deve ser um problema para o PIX. Contudo, falta a novidade passar no teste de adoção pelos usuários, sejam pessoas comuns ou comerciantes.

Em redes sociais e fóruns de discussão, internautas se mostraram preocupados com o fato de o Facebook Pay estar por trás do recurso de pagamentos do WhatsApp. Como a empresa de Mark Zuckerberg não tem uma reputação muito interessante em termos de privacidade, é natural que exista uma resistência nesse sentido.

No fim das contas, quem dará o veredicto sobre o sucesso do WhatsApp Pay no Brasil serão os comerciantes, que poderão escolher adotar a ferramenta, ou não, em um mercado já saturado com maquininhas de todos os tipos e preços.

smart people are cooler

Tecnologia, negócios e comportamento sob um olhar crítico.

Assine já o The BRIEF, a newsletter diária que te deixa por dentro de tudo

Você sabia que o TecMundo está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.