O lado sujo da era digital: saiba onde seu PC velho vai parar

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Imagem: Andrew McConnell/Reprodução

Em 12 de dezembro de 2013, foi a leilão a ReCellular, a primeira empresa de reciclagem de telefones celulares nos EUA, fundada em 1991, quando havia apenas 16 milhões de assinantes móveis no mundo. No auge, ela reciclava 500 mil aparelhos por mês, em vez dos 20 mil antes de ser vendida. Hoje, descarta-se em média um smartphone a cada dois anos e meio.

Não são apenas celulares, mas computadores (PCs, notebooks, tablets), eletrodomésticos de linha branca (como geladeiras) e de entretenimento doméstico (TVs e sistemas de som), brinquedos eletrônicos, torradeiras, chaleiras, panelas elétricas e mais fontes de alimentação, baterias descartados todos os dias – olhe à sua volta. Se sair mais barato comprar um novo e mais moderno, por que consertar?

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Globalmente, a pilha de dispositivos descartados está crescendo exponencialmente, enquanto economias de escala empurram para baixo os preços de produtos que, em dois anos, serão apenas lixo eletrônico.

Jogado em quintal alheio

Em termos absolutos, a Ásia hoje é a maior contribuinte para que esse monte cresça, seguida pela Europa e América do Norte. Por sua vez, a Europa tem o maior índice per capita de geração de lixo eletrônico: 16 kg por habitante.

Na ponta, com cada habitante produzindo 1,7 kg, está a África – um dos destinos preferidos por países do primeiro mundo para despejar seus gadgets ultrapassados (as imagens do gif abaixo são do fotógrafo Andrew McConnell em Accra, Gana).


Ao contrário do que se imagina, computadores e celulares não são a maior parte do chamado e-waste: 31% são pequenos equipamentos eletrônicos, como micro-ondas, barbeadores elétricos e câmeras digitais; 28%, grandes equipamentos de linha branca, como lavadoras de louça e de roupas; 17%, equipamentos para mudança de temperatura. como geladeiras e aparelhos de ar-condicionados; 15% são de monitores (tanto de computadores como de TVs); 7% são constituídos de pequenos aparelhos de TI, como computadores e celulares; e 2% são lâmpadas.

Todo esse material acaba em “centros de reciclagem”, um eufemismo para lixões altamente contaminados por chumbo, cádmio, dioxinas, furanos, arsênico, mercúrio, PCB, crômio, cloreto de vinila, antimônio e berílio, entre outras substâncias tóxicas provenientes dos eletrônicos.

Crianças bebem água com chumbo

Dos cerca de 50 milhões de toneladas descartadas a cada ano, 70% vão parar nos países pobres, especialmente Gana, Nigéria e Costa do Marfim. Os fabricantes ignoram as leis internacionais e enchem navios com contêineres classificados como "bens de segunda mão" ou "doações para instituições de caridade" (80% dos computadores que chegam a Gana não funcionam).

Dois lugares ficaram conhecidos como os mais contaminados por eletrônicos descartados: a cidade chinesa de Guiyu e o subúrbio de Agbogbloshie, em Accra, capital de Gana.

Uma criança brinca sentada entre cabos e lixo eletrônico em Guiyu, China.Uma criança brinca sentada entre cabos e lixo eletrônico em Guiyu, China.Fonte:  Greenpeace/Natalie Behring 

O solo em Guiyu registra uma das maiores concentração de dioxinas e metais pesados do planeta; a água tem 2.400 vezes mais chumbo do que é considerado seguro. Antes da era digital, ela era uma vila sobrevivendo de colheitas de arroz.

Hoje, Guiyu produz pessoas doentes: 80% das crianças sofrem de envenenamento por chumbo, as taxas de aborto estão acima da média nacional e há casos de defeitos congênitos, danos ao sistema nervoso e também pulmões, fígado e rins; leucemia, câncer de variados tipos e morte. (As imagens do gif abaixo são do fotógrafo Stephan Irvine).


No lixão em Agbogbloshie, adultos e crianças quebram componentes eletrônicos para retirar qualquer coisa que possa ser vendida. O restante (incluindo fios de carregadores e cabos) é queimado para remover soldas e liberar o cobre. Em baldes, microships são banhados em ácido para a extração de ouro.

Um novo celular a cada 8 meses

Não apenas a explosão da demanda fez o descarte de lixo eletrônico aumentar. Grandes fabricantes transformaram seus produtos em grifes de tecnologia, sendo a Apple  famosa por projetar dispositivos difíceis de reparar ou atualizar.

Segundo o Greenpeace, entre 29 de junho de 2007 e 3 de novembro de 2017, a Apple lançou 14 novos modelos de iPhone. O primeiro tornou-se obsoleto em três anos.

De acordo com um estudo da Repair.org e matéria do site de tecnologia Motherboard, a Apple e a Sony lutam contra legislações e padrões ambientais que apoiam o reparo, a atualização e a reciclagem de dispositivos eletrônicos. Outras empresas de eletrônicos seguem o mesmo caminho, diminuindo a vida útil de seus aparelhos.

Onde descartar

Se você quer ajudar a diminuir o lixo eletrônico do mundo, adote estas medidas simples: troque seus aparelhos somente quando necessário; conserte e reaproveite; compre aparelhos recondicionados; e descarte adequadamente os que não funcionam mais. Se você não sabe onde, procure na página do ecycle pontos de coleta perto de você.

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