Filme do anti-herói “O Doutrinador” abre seu próprio universo compartilhado

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Miguel, agente federal da Divisão Armada Especial, é um cara perigoso. Altamente treinado e perito em armas, ainda bem que ele está do “lado da lei”. Mas a quem servem essas “leis”? E até que ponto alguém pode ser pressionado até deixar de acreditar no sistema? Essas são questões que vimos em muitos dos anti-heróis queridos do público, como Justiceiro, Rorschach, V, entre outros nomes que influenciaram um dos grandes destaques dos quadrinhos nacionais nos últimos anos: O Doutrinador.

“Ele não tem nada de original, é uma colcha de retalhos”, admite o criador Luciano Cunha, que falou um pouco conosco durante sua passagem pelo Geek City, em Curitiba. E não tem nada de ruim nisso. Pelo contrário: ao assumir o que de melhor vimos nesses personagens, o Doutrinador deixa suas falhas e feridas expostas aos olhos do público — que assim pode se identificar com a mesma violência que abriu esses machucados.

doutrinadorO roteirista Gabriel Wainer, à esquerda, e o criador Luciano Cunha

“O Doutrinador é um homem falível, ele é um anti-herói, sua própria imperfeição é o que o conduz. Por conta disso, dá um pouco de agonia por torcer por ele”, complementa o roteirista Gabriel Wainer, que conduziu a versão de papel para os movimentos do ator Kiko Pissolato, em longa produzido pela Downtown filmes e que estreia neste final de semana no circuito nacional.

História começou em 2008 teve um empurrãozinho das redes sociais

Cunha produz quadrinhos já há um bom tempo. Do início com o “Menino Maluquinho”, de Ziraldo, até hoje, são várias histórias e a do Doutrinador ganhou destaque, em especial, devido às redes sociais. As tramas do vigilante já existiam desde 2008 e ficaram dormentes até 2013, quando o autor reformulou o personagem e aproveitou o momento de instabilidade política e econômica para dar voz ao povo — por meio de um anti-herói que pudesse sujar as mãos por todos.

doutrinador

Assim, o Doutrinador ganhou uma página no Facebook e passou a combater nomes reais do cenário nacional — e isso até mesmo rendeu processos contra Cunha. Bem, o que muito engravatado esquece é que polêmica é como imã para a rebeldia. E em seguida, o personagem foi conquistando mais destaque e seguidores na web, até ganhar volumes impressos, como o “O Doutrinador”, da Redbox Editora, e “O Doutrinador: Dark Web”, feito em parceria com o músico Marcelo Yuka (ex-baterista do Rappa), em 2015.

O “Guará Cinematic Universe”

O sucesso na mídia alternativa e o projeto com o filme catapultaram o Doutrinador para a grande mídia e agora os planos são abrangentes. “O Doutrinador vem para isso, para abrir os olhos, para conseguir fazer uma catarse coletiva e não deixar barato. É muito importante lembrar que estamos fazendo esse filme em uma democracia. Se fosse em uma ditadura militar a gente não estaria fazendo um filme contra os governantes. Então, estamos totalmente batendo no sistema com o pé na porta”, celebra Gabriel Wainer.

Depois do filme de estreia, no dia 1º de novembro, já estão agendados mais lançamentos em quadrinhos e uma série, com lançamento marcado para o março do ano que vem. Tudo sob o guarda-chuva da Guará Entretenimento, que pretende criar seu próprio universo compartilhado.

“A Guará entretenimento vai ser esse misto de editora com produtora. A gente já tem todo esse universo pronto. Agora em dezembro lançamos três quadrinhos sobre esse universo, que é Penélope, Os Desviantes e O Santo, que estão prontos, vamos lançar na CCXP (Comic Con Experience, em São Paulo, em dezembro”, conta Luciano Cunha. “A Penélope já é uma personagem que está no filme e na série, ou seja, já é um spin-off. O Santo já aparece no quadrinho do Doutrinador e vice-versa. Ou seja, está tudo interligado, se conectando. O sonho está vivo e se concretizando”, celebra.

E, pelo visto, “matéria-prima” para as histórias não vai faltar — afinal, enquanto a corrupção existir no Brasil, o Doutrinador vai estar à espreita. “Infelizmente temos o Doutrinador. Esse é o personagem que nunca gostaríamos de ter escrito”, encerra Wainer.

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