Como parasita converte ratos em “Cavalos de Troia” para infectar gatos

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Pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, deram importantes passos no sentido de desvendar o mistério sobre o mecanismo usado pelo protozoário Toxoplasma gondii, causador da toxoplasmose, para afetar o comportamento dos ratos, tornando-os mais vulneráveis ao ataque de gatos para, assim, infectar os felinos. Basicamente, o patógeno transforma os roedores em “Cavalos de Troia” carregados de parasitas prontos para encontrar novos hospedeiros e proliferarem. Mas, como?

Hospedeiro favorito

Segundo Jackson Ryan, do site C|Net, embora os gatos sejam famosos por carregarem o protozoário responsável por provocar a toxoplasmose, a verdade é que esse parasita é capaz de infectar praticamente qualquer mamífero, incluindo, como você sabe, os humanos. Em pessoas, a não ser que o sistema imunológico esteja debilitado por alguma razão, como costuma ser o caso de idosos, doentes, gestantes e crianças, o agente costuma permanecer inativo e ficar quietinho no canto dele – recolhido no interior de cistos que se formam ao seu redor e o mantêm protegido.

(Fonte: Wikimedia Commons / Reprodução)

Ainda com relação às infecções em humanos, nos que pertencem ao grupo de risco, pode acontecer de o protozoário se instalar no tecido cerebral – e sua presença no organismo já foi associada a mudanças de comportamento e ao surgimento de condições neurológicas como a esquizofrenia. No entanto, seu hospedeiro favorito são os gatos, uma vez que os parasitas encontram nas vísceras dos felinos o ambiente perfeito para fixar residência, amadurecer e se reproduzir para, então, ser expelidos por meio das fezes e reiniciar o ciclo. E como eles infectam os gatos?

É aqui que a coisa fica interessante – e que a pesquisa feita pelos cientistas de Genebra entra em cena! Bem, na realidade faz tempo que se sabe que o Toxoplasma parece exercer uma espécie de controle mental sobre os ratos infectados que, por sua vez, são capturados pelos gatos. Mais especificamente, segundo Jackson, diversos estudos e experimentos apontaram que os protozoários tornam os roedores mais impulsivos e corajosos, aumentando, com isso, as chances de que eles sejam capturados por felinos significativamente.

Cavalo Rato de Troia

Em poucas palavras, os protozoários invadem os corpos dos ratos e os transformam em uma espécie de “Cavalo de Troia” vivo para invadir um novo hospedeiro. Só que ninguém compreendia o mecanismo por trás dessa mudança de comportamento. É evidente que o parasita não faz uso de telepatia ou poderes mágicos para agir sobre a mente dos infectados – e a equipe de Genebra explorou várias possibilidades para tentar desvendar o mistério de como a sua ação se dá.

(Fonte: Live About / Getty / Reprodução)

Segundo Kelly Servick, do site Science Mag, o time conduziu experimentos comportamentais com ratinhos infectados e saudáveis – expondo-os a odores de gatos e outros animais, como porquinhos-da-índia e raposas –, mas também realizou exames nos quais exploraram os cistos cerebrais contendo os protozoários, fizeram análises genéticas e outros tantos testes. Os resultados apontaram que os parasitas não eliminam o medo dos roedores, mas sim que os tornam mais curiosos. E mais: essa perigosa curiosidade se não restringe apenas aos gatos, como se pensava, mas se aplica a qualquer animal e possível predador.

Além disso, o sequenciamento genético revelou que o Toxoplasma provoca mudanças expressivas nos cérebros dos ratos e, quanto maior a quantidade de protozoários, mais intensas são as alterações. Os pesquisadores também encontraram uma relação entre o número de cistos e uma maior inflamação cerebral, indicando que as variações de comportamento podem ser resultado de uma resposta imunológica ao processo inflamatório.

(Fonte: NBC News / Reprodução)

Os resultados foram apresentados recentemente em uma prestigiosa publicação científica, mas os pesquisadores não se deram por satisfeitos e devem continuar com os trabalhos. O foco, agora, será descobrir como a inflamação cerebral provoca alterações de comportamento nos ratos e, se possível, explicar de uma vez por todas como um mero protozoário consegue tamanha façanha.

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