Por que um site brasileiro de tecnologia precisa falar sobre Donald Trump?

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Desde novembro de 2016, um sujeito especial tem se tornado tema recorrente aqui no TecMundo: o apresentador, empresário, milionário e 45º presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Com discursos assertivos e atitudes que fogem da política burocrática e tradicional, ele conquistou uma legião de admiradores e inimigos ao redor do mundo. E foi ele quem riu por último: Trump venceu a eleição norte-americana após ter a candidatura vista como piada por alguns dos maiores especialistas da área.

Porém, o TecMundo recebeu muitas críticas nos comentários a respeito da cobertura, incluindo questionamentos a respeito da relevância dessas notícias. Afinal, vale a pena um site do Brasil sobre tecnologia veicular ações e discursos de um presidente do outro hemisfério? Em resumo, sim. Agora devidamente empossado e iniciando os trabalhos como líder do país, Trump já tem e ainda terá um impacto grande na tecnologia, com reflexos por aqui. A seguir, tentamos explicar o porquê.

Atenção: antes de começarmos, é bom deixar claro que esse texto é uma análise da gestão Trump a partir de consequências na tecnologia. Ele é totalmente independente do que pensa o candidato — e a opinião política deste redator é irrelevante para a composição do artigo.

"Mas eu nem moro nos Estados Unidos!"

Esse argumento é clássico. Afinal, por que os brasileiros precisam se preocupar com o cidadão que está no outro hemisfério? Dá para explicar isso com um exemplo: um dos discursos de campanha do republicano envolvia "boicotar a Apple” até que ela transfira as principais fábricas de componentes da China para os Estados Unidos. O motivo? Gerar mais empregos no país e reaproximar as empresas da terra natal. O problema? A mão de obra é levada para o outro lado do mundo por lá ser mais barato e aplicar as leis trabalhistas do EUA faria o preço original — e de importação — do iPhone, por exemplo, explodir.

Além disso, as ações do presidente Trump podem impactar a cotação do dólar. Mesmo que você nem chegue perto de ver uma nota estrangeira na sua frente, ela é a moeda tida como base para a precificação de muitos dos produtos que chegam ao Brasil, além de ser levada em conta nas importações e na cotação de ações de algumas das principais bolsas de investimento do mundo.

A questão dos imigrantes

A mais recente ação de Trump que balançou o mundo da tecnologia foi o veto a imigrantes de sete países de maioria muçulmana de entrarem nos Estados Unidos, mesmo com visto regularizado — e isso impacta tanto as equipes quanto a moral de gigantes da tecnologia. Apple, Google e Facebook foram algumas das principais companhias que reagiram negativamente ao banimento, por vários motivos.

Para começar, a equipe de funcionários dessas e de outras empresas são multiculturais, com vários integrantes de diversas nacionalidades — incluindo de alguns dos países banidos. E não falamos apenas do presente: o mercado da tecnologia é famoso por atrair mentes brilhantes de diferentes locais com inúmeras competências, e dificultar a transição de estudantes, jovens ou veteranos de suas terras natais para brilhar nos EUA pode fazer com que muitas oportunidades sejam perdidas.

Funcionários da Google foram às ruas protestar contra o veto

O CEO da Apple, Tim Cook, já mostrou que discorda de Trump em vários aspectos. Em relação a essa questão, soltou um comunicado em que afirma que a empresa "não existiria sem imigração". E é verdade: o próprio Steve Jobs é filho de pai sírio, um dos países incluídos no veto. Mark Zuckerberg fez uma postagem no Facebook com um tom parecido. “Os EUA são uma nação de imigrantes, e nós devemos nos orgulhar disso”, compartilhou.

No caso da Google, a questão é até pessoal: o cofundador Sergey Brin é ele mesmo um refugiado da Rússia. A companhia doou US$ 4 milhões para instituições que ajudam imigrantes, fez passeatas em suas sedes nos EUA e chamou ao país os funcionários originários dos países banidos para evitar que eles sejam barrados.

Neutralidade de rede e FCC

Você se lembra daquela questão do fim da neutralidade de rede no Brasil, que foi duramente criticada e arquivada com a aprovação do Marco Civil da Internet? Pois é: a venda de pacotes de internet com base em diferentes níveis de consumo ainda é um tema bastante debatido nos Estados Unidos e pode ter uma reviravolta no novo governo.

Isso porque Trump agora também é o responsável por indicar o chefe da Federal Communications Commission (FCC), o órgão regulador das telecomunicações no país que pode ser considerada "a Anatel deles". E o escolhido foi Ajit Pai, que não concorda com a atual legislação e pode promover mudanças no já diferente sistema norte-americano.

Ajit Pai deve movimentar as discussões sobre internet e comunicações

Essa novidade seria bastante benéfica para as gigantes operadoras do país, mas serviços que dependem bastante de tráfego de dados, como Netflix e YouTube, podem sofrer por conta do alto consumo gerado. Mas o que isso impacta no Brasil? A legislação pode voltar a ser discutida por aqui com novos argumentos, caso as operadoras — várias delas com donas internacionais — decidam reforçar as discussões com base no sucesso obtido nos EUA.

Um homem de contatos e negócios

Com base empresarial, Trump não deixa de ter contatos muito poderosos em vários ramos — e esses laços tendem a ser ainda mais importantes agora. Ele já mostrou que deseja se aproximar dos grandes empresários da tecnologia e está no lugar certo para isso. Afinal, é no Vale do Silício que muitas ideias surgem e são desenvolvidas.

O presidente pode ajudar startups, dando preferência a leis que beneficiem a abertura e o desenvolvimento dessas pequenas empresas

A agressividade e as opiniões pessoais podem (e vão) afastar algumas pessoas, mas podem aproximar outras. Enquanto o CEO da Apple, Tim Cook, lamentou o resultado das eleições, o investidor bilionário Peter Thiel virou um de seus consultores em tecnologia. O presidente até realizou uma espécie de simpósio com CEOs e grandes nomes do ramo, mas não conquistou muitos aliados.

O "encontro de tecnologia" de Trump serviu para um primeiro contato entre as partes

Mas quem disse que as consequências são só negativas? Por outro lado, muitos empresários do Vale devem se beneficiar de algumas das políticas de Trump, inclusive várias das grandes corporações da área que têm base nos EUA. Há quem acredite ainda que o presidente pode ajudar startups, dando preferência — com o apoio do Congresso majoritariamente republicano — a leis que beneficiem a abertura e o desenvolvimento dessas pequenas empresas. Novas ideias que, sem dúvidas, podem impactar não só o país, mas todo o mundo da tecnologia.

No fim, é tudo meio imprevisível

Trump tem tomado atitudes diferentes daquelas prometidas em campanha e alterado o tom de alguns discursos. Por isso, até mesmo os apontamentos feitos acima podem se mostrar totalmente errados.

O que importa é que o presidente dos EUA tem impactos globais em política, economia e tecnologia — e você pode ser afetado por isso

O que importa é que o presidente dos EUA tem impactos globais em política, economia e tecnologia — e você pode ser afetado por isso, mesmo que indiretamente. O papel do TecMundo é manter o leitor informado e transmitir conhecimentos sobre a área, e isso envolve dar boas ou más notícias a respeito do novo governo de uma das nações mais poderosas do mundo.

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